terça-feira, outubro 29, 2002

Lula da Silva, Presidente




Muito foguetório, música e caravanas automóveis têm comemorado a eleição de Luís Inácio Lula da Silva (candidato do PT – Partido dos Trabalhadores) para Presidente da República Federativa do Brasil.
A noite de 27 para 28 de Outubro foi de festa e o dia de hoje continuou a ser, tanto mais que, “dia do funcionário público”, no Brasil a maior parte dos serviços está fechada por tolerância de ponto.
Com tomada de posse marcada para 1 de Janeiro de 2003, o ex-metalúrgico (torneiro mecânico) que fez 57 anos no dia das eleições (27 de Outubro) vinha concorrendo desde 1989 às presidenciais.
Apresentando um discurso mais moderado do que em anteriores candidaturas e uma estratégia de campanha bem elaborada, venceu na segunda volta (61,3% dos votos) o candidato do poder actual, José Serra (38,7% dos votos).
Cerca das 14 horas de hoje, em conferência de imprensa onde os jornalistas (mais de 400, entre nacionais e de 40 países estrangeiros) não puderam fazer perguntas, proferiu o primeiro discurso como presidente eleito.
Na transmissão integral e directa pela televisão e pela rádio, sublinhou algumas linhas mestras para o seu mandato: combate imediato à fome (pelo menos três refeições diárias para todos os brasileiros) e criação de uma Secretaria de Emergência Social que coordenará as acções nesse sentido; geração de mais emprego, aumento das exportações (tanto de produtos manufacturados como de produtos agrícolas), melhor distribuição dos rendimentos; luta contra a droga e o banditismo em geral; aumento dos níveis de instrução, extensiva a cada vez maior número de pessoas; políticas económicas e fiscais que reduzam o distanciamento dos mais carenciados, desfavorecidos e oprimidos; destaque maior para o papel no seio do MERCOSUL, que pretende vir a ser um equivalente, na América do Sul, à EU; emparceiramento com outros países na redução do desnível entre países ricos e pobres, com uma crítica aos USA pelo seu proteccionismo exacerbado; enfim, prometeu ser o presidente da mudança, pedindo, no entanto, paciência aos que gostariam de ver tudo feito num dia. “Não há receitas milagrosas para tamanha dívida social”, disse.
No discurso tocou, afinal, nos principais problemas que afligem o país, tal como era previsto. Grandes linhas de rumo mas sem planos concretos revelados.
Mais de metade dos cerca de 100 milhões de eleitores (num país com 170 milhões de habitantes) confia nele. Os outros, ou não confiam ou esperam para ver. Mesmo assim, o resultado nas urnas revelou ontem o desejo de mudança dos Brasileiros por uma vida melhor, mais justa, mais digna, mais gratificante, de que Lula da Silva é o arauto assumido e comprometido.
Apesar das enormes e inequívocas potencialidades do país, a tarefa não será fácil e, se calhar, nem facilitada. Perspectivas diferentes com peso no cenário político, heranças dum passado menos recente e mais recente, alianças partidárias e conjuntura internacional poderão contribuir para uma menor compreensão e paciência do eleitorado, factos que a oposição não deixará de cobrar alto, tanto mais que, ao longo da campanha, ela tentou fazer passar uma imagem de incompetência de Lula por este não possuir um diploma universitário. A isto, Lula da Silva sempre respondeu: “Provarei que um torneiro mecânico pode fazer o que as elites não fizeram”. Nisto acreditam, pelo menos, 52,5 milhões de Brasileiros.