quinta-feira, setembro 28, 2006

Este espantoso Brasil


O Brasil sofre uma profunda, ampla e duradoura crise de ética que envolve praticamente toda a sociedade brasileira, em graus diferentes, conforme os patamares em que se manifesta, e que se repercute em todas as actividades.
Aumento exponencial de agressões a mulheres e a crianças que obrigou à criação apressada de leis especiais e rigorosas para conter o surto. Maior frequência de crimes passionais como forma de resolver questões amorosas (?).
Árbitros de futebol com processos judiciais por terem sido comprados para forjarem resultados de desafios. Jogadores internacionais completamente apáticos e desinteressados na selecção do campeonato mundial de futebol, para poderem estar em forma nas equipas estrangeiras onde auferem ordenados milionários.
Quase 2 mil casos de abusos sexuais cometidos por padres católicos. Pastores protestantes comprometidos com ilegalidades, envolvendo avultadas verbas em moeda nacional e estrangeira; uso, por estes pastores, da religião e das suas principais figuras míticas para conquista de votos em campanhas políticas.
Como alternativa ao ensino público, de má qualidade, proliferação de colégios particulares de elevado custo, onde, mediante pagamento acrescido, os alunos se submetem a aulas suplementares (ditas de reforço), com mais de cem participantes, porque os professores das aulas normais, os mesmos das aulas suplementares, não cumprem os objectivos. Os meses em que não há aulas são cobrados como se as houvesse.
Mortandade nos principais hospitais públicos do país por negligência, erro médico ou falta de pessoal.
Furtos, roubos, assaltos, sequestros, estupros, assassinatos constituem os principais temas de abertura dos noticiários locais televisivos e das manchetes dos jornais. Agentes das penitenciárias e das polícias são coniventes com os bandidos; protegem-nos e, em muitos casos, fornecem-lhes armas e fardamentos.
Juros de 144% ao ano (os maiores do planeta). A segunda pior distribuição de renda do mundo. Mais de 50% da mão de obra a trabalhar no mercado paralelo, aqui chamado, eufemisticamente, "informal", mercado em que assenta 40% da economia (excluindo deste cômputo o contrabando de armas e de produtos de consumo corrente e material electrónico, proveniente, em particular, do Paraguai, e o narcotráfico; só no dia 26 do corrente mês, um posto da fronteira alvo de uma operação especialmente montada pelas Contribuições e Impostos, que aqui tem o nome de Receita Federal, e pelo Exército, foram apreendidos 2 milhões de reais de mercadorias ilegalmente entradas no país com, apenas, 5% de veículos fiscalizados; 1 real vale cerca de 0,36 euros).
Desde Março deste ano que o país vive atolado em sucessivos escândalos políticos que arrastam escândalos financeiros, enredando ministros, senadores, deputados federais e estaduais e autarcas, na classe política, juízes e advogados, na debilitada Justiça, e empresários acusados de sobrefacturação em serviços prestados ao Estado e lavagem de dinheiro.
Em todas estas ilegalidades, com especial incidência no assalto aos cofres públicos de bilhões de reais, têm estado à cabeça, como mentores ou executores, destacados elementos do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido que apoia o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, agora candidato a novo mandato de 4 anos.
As ligações de Lula da Silva ao PT são muito estreitas – foi seu fundador e dirigente máximo – e a maioria dos implicados nos crimes são seus amigos pessoais de longa data.
Algumas das tramóias tocaram de muito perto a presidência da República, e, com gravidade acrescida, o presidente Lula, chefe do governo de sistema presidencialista, sempre disse desconhecer os labirintos das ocorrências – até os praticados pelos seus mais íntimos colaboradores, com gabinetes no mesmo piso do palácio presidencial. Mais tarde, por serem inverosímeis perante a opinião pública tais protestos de desconhecimento, passou a tentar justificar os actos com a tradição, isto é, se sempre foi assim, porquê o espanto?
Tais e tantas foram as patifarias, que chegou a falar-se em "impeachment". No entanto, a oposição, embora dividida, considerou não ser oportuno, pesando para a decisão o facto de ser ano de eleições.
Apesar das tempestades, o presidente Lula tem-se mantido à tona de água, qual rolha de cortiça na crista da onda em mar encapelado. Muito lhe tem valido o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, seu velho e dilecto amigo, especialista nestas andanças – ex-advogado criminalista; não terá sido por acaso a sua escolha para a pasta...
Com eleições marcadas para o 1º de Outubro próximo (deputados estaduais e federais, senadores e presidente da República), Lula tem apregoado, talvez com excessivo e leviano triunfalismo, a sua vitória logo na primeira volta, aparentemente desinteressado da quebra de 9 pontos na competitividade do Brasil no ranking internacional, devido ao peso excepcional do item "corrupção", e à repercussão internacional que a política brasileira do seu governo tem alcançado negativamente na imprensa estrangeira.
Até agora, os números têm-lhe sido favoráveis. As pesquisas de opinião, com as reservas que tais inquéritos aconselham, apontam para uma vitória absoluta no primeiro turno, contra o mais directo adversário, o candidato do PSDB (Partido Social-Democrata Brasileiro), Geraldo Alckmin, um membro da Opus Dei, segundo consta. Diga-se de passagem, que 27 milhões dos 126 milhões de eleitores registados não possuem a escolaridade mínima; e grande parte dos eleitores mais velhos do interior miserável do país vende o seu voto a troco da promessa de meia dúzia de tijolos. Uns e outros formam uma clientela adequada a um presidente que se orgulha de ser torneiro mecânico, do mesmo modo que se orgulha de não ser capaz de ler uma página de um livro.
Mas... o rumo parece poder mudar, mercê de um mega escândalo, mais uma vez protagonizado pelo PT, a pouco mais de uma semana da ida às urnas.
Foi o caso que o empresário que denunciou a fraude das ambulâncias, embora primeiro responsável por ela, conhecida como "escândalo dos vampiros", arrecadação, por parte de muitos políticos, de dinheiros públicos por sobrefacturação na compra de ambulâncias para as autarquias do país, tentou vender ao PT um dossier com relatórios, fotografias e vídeos que, supostamente, incriminariam elementos da actual oposição, em particular os candidatos do PSDB, respectivamente, ao governo do Estado de São Paulo, José Serra, antigo ministro da Saúde, e à presidência da República, o já referido Alckmin.
Do que foi divulgado do conjunto de documentos, nada transpareceu até agora que possa ser considerado criminoso, embora o seu proprietário diga que as 2 mil páginas não foram ainda devidamente avaliadas.
Como crime, sim, foi classificada a tentativa de transacção, e a Polícia Federal prendeu num hotel de São Paulo dois elementos do PT que se preparavam para comprar o material por 1,7 milhões de reais, dinheiro que foi encontrado com eles no acto da prisão, e em cujo pacote estavam incluídos cerca de 250 mil dólares. Os compradores, postos em liberdade após as primeiras averiguações e respectivos depoimentos, são pessoas de relações muito próximas do presidente Lula.
A bomba explodiu com estilhaços em todas as direcções.
A oposição apresentou à Justiça um pedido de impugnação da candidatura de Lula da Silva, processo que decorre já. Ainda que não possa ser concluído antes do acto eleitoral, as suas conclusões, no entanto, terão efeitos sobre o cidadão Lula da Silva, seja ele ou não o novo presidente.
O ministro da Justiça veio à praça pública dizer que o sucedido não deveria servir fins eleitoralistas, aparentemente esquecido de que era esse o objectivo dos compradores do PT.
Por sua vez, o candidato à reeleição, Luís Inácio Lula da Silva, e actual presidente da República assumiu uma postura de falsa repulsa, como tem feito sempre que um novo escândalo rebenta, mostrou-se revoltado, e teve dois gestos pouco elegantes, mesmo politicamente, mesmo tratando-se do Brasil: insultou publicamente os colaboradores que figuraram na cena, e, garantindo mais uma vez que de nada sabia, atirou com as responsabilidades para cima do seu coordenador nacional de campanha, que demitiu de imediato, o actual presidente do PT. Ricardo Berzoini, de seu nome, apenas disse perante as câmaras: "o presidente falou, tá falado".
A grande pergunta que todos fazem neste momento é quanto à origem do dinheiro para pagamento dos documentos. A Polícia Federal, em colaboração com o FBI, já descobriu que os dólares entraram legalmente no país, provenientes de Miami, e foram levantados num banco pequeno do Brasil; falta agora saber por quem.
Quanto ao restante dos 1,7 milhões de reais, a mesma polícia diz que é de difícil rastreamento – quase só por confissão dos seus detentores. Talvez por isso, por saber dessa conveniente impossibilidade, Lula da Silva tenha tão peremptória e irritadamente exigido em público saber qual a sua origem – et pour cause, vai dizendo, também, querer conhecer o conteúdo do dossier, o que é outra falta de aprumo indesculpável.
Indiferente ao estrebuchar dos altos quadros do PT que classificam de tentativa de golpe as movimentações da oposição no Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Eleitoral, Marco Aurélio Mello, que considera a tentativa de "negócio" pior que o escândalo "Watergate" da América do início dos anos 70, deu 10 dias ao presidente da República e ao ministro da Justiça, entre outros, para apresentarem as respectivas defesas quanto à suspeita de envolvimento no sucedido.
Ao mesmo tempo, o Ministério Público, enquanto mandou quebrar o sigilo telefónico de várias figuras ligadas ao escândalo, deu ordem de prisão a seis elementos comprometidos com o esquema: os dois mandatados compradores, um director executivo de um banco de dimensão nacional que se encontrava a trabalhar na campanha de Lula, um ex-secretário do ministério do Trabalho, um assessor do presidente que foi seu guarda-costas durante 17 anos, e um empresário. Todos amigos chegados de Lula – que de nada sabia, garante.
A prisão só poderá ser efectuada depois do dia 4 de Outubro, devido ao período eleitoral.
As eleições, no próximo domingo, mudarão a face deste Brasil que não pára de nos espantar?



1 Comments:

Blogger Luís Alves de Fraga said...

Bom, meu Caro Amigo, o Brasil é uma bomba, o PT o rastilho e o cidadão Lula da Silva o fulminante.
Compreendo a oposição! Não por estar a pensar no nosso provérbio «Quanto pior melhor», mas por estar a matutar no outro: «Quando mal, nunca pior»!
É que, se calhar, se as «coisas» mudam no Brasil, têm de mudar para uma ditadura e aí muita gente vai ficar pior do que está agora, porque muita coisa errada se vai fazer, mas só ganha com isso uma ínfima minoria e, tal como está, estão ganhando muitos mais.
Claro que, embora eu acredite e defenda o sistema democrático, julgo que por aí ele devia ser muito bem musculado.
Enfim, é a minha opinião e vale o que vale, tendo em atenção que estou bem longe dessa realidade.
Um abraço e vá em frente.

sexta-feira, setembro 29, 2006 9:26:00 da tarde  

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